quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Saudade...

Um dia, quem sabe, o Brasil vai assumir estes mandamentos laicos. Ate la....

Para os amigos e os nao muito amigos, flores, as orquideas cultivadas em minha casa.

Entrevista quando ocorreu o lançamento do livro O Desafio do Islam.

O SOTAQUE TEXANO DA RAZÃO DE ESTADO

Folha de São Paulo

Márcio Senne de Moraes
da Redação

Professor de filosofia da Universidade Estadual de Campinas, Roberto Romano está lançando "O Desafio do Islã e Outros Desafios" (ed. Perspectiva), em que debate os grandes impasses e problemas que pairam sobre as sociedades ocidentais. "Há um grande perigo quando [George W.] Bush proclama, mesmo que implicitamente, a superioridade do mundo ocidental. Ele usa a razão de Estado com sotaque, o que a torna quase ininteligível para outros países ou outras culturas", diz o autor de, entre outros, "Conservadorismo Romântico" e "Lux in Tenebris", na entrevista a seguir.

O sr. diz que o ideal iluminista de transparência foi destruído pela razão de Estado. Qual é a conseqüência disso?

A conseqüência é que houve, concomitantemente, um espalhamento da razão bélico-tecnológica e da estratégia, utilizadas pela razão de Estado, e que não existiu uma disseminação da base da própria razão, que é muito mais ampla que a razão de Estado. Se há um ideal de razão, que foi herdado dos gregos, elaborado pelos romanos e teve uma forte tintura do pensamento judaico-cristão e do islã, ele acaba sendo desprezado nessa lógica. Se desconsiderarmos o que foi feito no mundo islâmico no que tange à matemática, à ótica, à medicina e à transmissão dos textos filosóficos gregos à cultura cristã, não teremos a totalidade da experiência histórica da razão.

Com a expansão do Ocidente -feita a partir de uma base tecnológica herdada de outras culturas-, houve uma fragmentação do fato racional. Nos movimentos atuais, que substituíram os movimentos pela descolonização, existem as microrrazões que operam com uma lógica própria. Ainda não há, portanto, uma possibilidade de diálogo desses vários segmentos com um fundo racional mais amplo. Há as grandes potências, que usam um idioleto da razão, como no caso de Bush e de Tony Blair, e os vários movimentos terroristas que operam segundo seus idioletos. Há uma espécie de babel política, cuja saída é praticamente impossível, já que cada um desses setores tem sua lógica própria. Isso impede que o sonho de regulação universal seja concretizado.

Mas o projeto da paz perpétua não é algo utópico?

Sim, na prática. Contudo ele contém uma idéia de razão, da qual Kant é o grande representante, que pôde modificar um pouco o antigo status quo. O problema é que, na vida pública, nunca há ganhos definitivos. Gosto de uma frase de Diderot, que era visto como alguém que acreditava no progresso, que diz que uma nação pode chegar a um nível bastante elevado de civilização e, em seguida, regredir.

Nesse contexto, as políticas aplicadas pela atual administração americana são um retrocesso?

Sim. Há um grande perigo quando Bush proclama, mesmo que implicitamente, a superioridade do mundo ocidental. Ele observa as prioridades do Ocidente a partir de uma lógica privada e usa a razão de Estado com sotaque, o que a torna quase ininteligível para outros países ou outras culturas. A disputa ocorrida na ONU entre a União Européia, liderada pela França e pela Alemanha, e os EUA mostra essa impossível tradução da razão de Estado americana. Todavia não se trata apenas de um fenômeno de lógica ou de racionalidade. Há uma disputa pelo poder. Paris e Berlim não têm uma atitude filantrópica, já que têm planos típicos de uma potência.

A mídia, segundo seu livro, tornou-se um mero instrumento da política externa americana, que é classificada de "xenófoba". Não há mais imprensa livre nos EUA?

Não, não posso imaginar que, em algum lugar do mundo, não haja ao menos um pouco de liberdade de imprensa. Por uma questão filosófica, não creio que tenha existido na história um Estado totalitário ou uma sociedade verdadeiramente totalitária.Nesse caso, não haveria nenhuma possibilidade de ruptura ou de movimentação nesses Estados. Se dissermos que a URSS ou a Alemanha nazista foi um totalitarismo pleno, negligenciaremos as resistências silenciadas e as fraturas, imaginando que houvesse um bloco indissolúvel entre a sociedade e o Estado. Até na URSS, havia imprensa clandestina. No caso americano, até na grande imprensa, existem fraturas e vozes divergentes, embora haja uma tentativa de controle por parte do governo. O Estado americano tem uma tradição democrática que ainda não foi vencida pelas tendências encarnadas por Bush. Como o momento em que escrevi meus textos era muito tenso, talvez meu tom reflita essa tensão.

O princípio que guia a guerra ao terror liderada por Bush é: "Nós contra eles". Que impacto esse princípio tem sobre o mundo islâmico?

O efeito é devastador. A retórica de Bush é algo surpreendente para mim, pois a sociologia e a antropologia americanas são muito refinadas, tendo uma grande capacidade de influência sobre as decisões políticas e sobre os sistemas de regulação. Noto que o padrão da sociologia dos EUA continua alto. Mas o que acontece com esse saber quando um grupo essencialmente fundamentalista assume o governo e utiliza um discurso tosco sobre diferenças culturais? Temos algumas pistas quando vemos que até textos da CIA foram negligenciados pelo governo em alguns casos. Trata-se de algo assustador. No caso de um governo que tem uma forte vontade de dominar, seria vital levar em conta as diferenças culturais para buscar estabelecer pontes, deixando de lado, portanto, a idéia de que o jogo é travado entre "nós" e "eles". Há um tipo de autismo nos EUA que leva a atos nocivos a seus próprios interesses.

Qual é a razão desse fenômeno?

Uma das causas internas é o fato de o exercício da Presidência ter-se tornado muito forte. Ou seja, o Legislativo é cada vez mais subordinado ao Executivo. Essa atribuição ditatorial do presidente deixou o Executivo menos atento ao diálogo com sua própria sociedade e com países estrangeiros. O descolamento do Executivo do restante do Estado é perigoso.

Qual é o grande desafio representado pelo islã?

Ele diz respeito ao "nós" usado pelo governo americano. É tentador para nós, que vivemos num meio impregnado de valores cristãos, acusar o islã de ser a matriz do terrorismo. Isso faz com que esqueçamos nossa própria história. Afinal, há uma tradição na cultura judaico-cristã de uso da adaga para fazer justiça. Isso foi muito usado nos séculos 17 e 18. Contudo não podemos esquecer que temos grande responsabilidade pela tecnologia e pela racionalização do terror. Temos doutrinas, lógicas e técnicas. E, quando se trata do terror político mais radical, devemos lembrar que ele foi inventado na cultura ocidental, tendo até dado início à Primeira Guerra Mundial -começada após o atentado de Sarajevo. Assim, o desafio do islã é o nosso desafio. Só poderemos entender o terrorismo islâmico se compreendermos nosso próprio terrorismo. É por isso que quis pôr em meu livro um texto sobre Erasmo, um pensador clássico ocidental que pregava uma relação de tolerância com o islã.

Outra antiga entrevista a Radio Onu, sobre a fuga de cerebros...

Ciência

2) Radio ONU: FUGA DE CÉREBROS PREOCUPA COMUNIDADE CIENTÍFICA

Entrevista com ROBERTO ROMANO, professor de Ética e Filosofia Política da UNICAMP.

http://www.un.org/av/radio/portuguese/roberto030721.ram

São Tomé e Príncipe

Ciência: fuga de cérebros preocupa comunidade científica

De acordo com estimativas da ONU, os baixos salários, o desemprego, a falta de investimentos e de políticas públicas para a defesa e promoção da ciência constituem as principais causas responsáveis pela fuga de talentos da África e da América Latina para os países industrializados.

Segundo uma pesquisa da Organização Internacional de Migração (OIM) mais de 40 mil cientistas latino-americanos abandonam anualmente seus países para instalar-se nas nações ricas.

No continente africano – indica a agência – cerca de 20 mil profissionais deixam todos os anos seus países com o mesmo propósito.

Tema de grande preocupação das Nações Unidas, a questão da fuga de cérebros foi recentemente debatida, em Recífe, na 55a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da UNICAMP, afirma que o debate da questão pela ONU – apoiado pelas autoridades academicas – é absolutamente fundamental.

Roberto Romano:

“Acho uma tarefa digna, dos maiores elogios. Constitui uma das maiores preocupações das autoridades acadêmicas brasileiras. Mesmo assim, não estamos levando em conta as verdadeiras dimensões desse fenômeno mundial. Conhecemos dados existentes na Rússia, no México e em outros países, mas os problemas da América Latina são assustadores. Na África, a situação é ainda mais dolorosa. O continente que está numa situação complicadíssma, em termos antropológicos, está perdendo um grande número cérebros. Creio, que do ponto de vista internacional é hora de se pensar efetivamente no aprofundamento do saber, na circulação das idéias. O que parece estar ocorrendo é uma circulação de indivíduos e pouca circulação dos saberes. A ONU tem um papel fundamental nessa área.”



ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)

Uma antiga entrevista, antes que a Universidade do ABC fosse criada. Vale pelas analises da Universidade em geral.

Professor aponta valor da universidade no Grande ABC

Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC

Os países que empregaram recursos em suas universidades, desde o final da Idade Média até hoje, encontram-se no topo do mundo. Os que não fizeram isto, como o Brasil, nunca chegam à hegemonia, são dominados, apesar de sua pujança natural e humana. Este é o principal argumento do professor Roberto Romano, doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Altos Estudos de Paris, na defesa da Universidade Pública Federal no Grande ABC. Romano lembra que essa aspiração – de reivindicar a criação de uma instituição de ensino pública – é legítima e remonta ao passado. Na época do Brasil-Colônia, o professor assinala, Portugal proibia a leitura até de livros científicos. Por isso, “os inconfidentes tinham como programa de governo instaurar no Brasil fábricas e universidades”.

Segundo o professor-titular da Unicamp, ao formar estudantes e professores para o uso de técnicas e conhecimentos amplos e profundos, a universidade entregará ao Grande ABC e ao país um conjunto de pessoas capazes de assimilar ciências e técnicas e passá-las à indústria, ao comércio, à gestão da coisa pública.

Romano é autor de vários livros, o último deles O Desafio do Islã e Outros Desafios, foi também coordenador do setor acadêmico da Frente em Defesa da Ciência e Tecnologia Nacional e assessor de vários fundações de auxílio à pesquisa.

Leia a entrevista, concedida com exclusividade ao Diário:

Diário – Quando surgiu a primeira universidade da história e em quais circunstâncias políticas?
Roberto Romano – A primeira universidade instaurada em plenitude foi a de Bolonha, no século XI. Ao contrário das outras que vieram depois dela, cujo interesse era centrado em Teologia, Medicina e Direito, Bolonha tinha um forte sentido jurídico. Ela foi mantida pela corporação de advogados, os quais tudo fizeram para dar aos estudos um significado laico. A preferência pelo Direito explica-se com base nas carências do comércio (que então renascia com as cidades, contra os feudos fechados e auto-suficientes), e pela estruturação nova dos poderes medievais, a Igreja Romana e os estados que naquele período davam seus primeiros passos. A cidade-estado na Itália era uma realidade naqueles tempos e assim foi até o século XVIII. Na vida privada, no comércio, no plano diplomático e na teoria do Estado a Universidade de Bolonha foi a grande referência.

Diário – De que maneira as universidades ajudaram determinadas civilizações a conquistar avanços técnicos e científicos?
Romano – Nas universidades medievais, os europeus aprenderam técnicas de ótica vindas dos árabes; cálculos e álgebra, astronomia; produção de instrumentos novos para a guerra; técnicas de construção civil; medicina. Eles também herdaram os saberes da filosofia, da política e do direito grego e romano, guardados nos mosteiros e nas bibliotecas dos árabes, em manuscritos. Com semelhante cabedal, os viajantes europeus e os pesquisadores tiveram o treino inicial que lhes permitiu emprestar mais tarde técnicas do extremo oriente, como a manipulação da pólvora e uso de armas de fogo (sobretudo as chinesas), dando-lhes uma eficácia letal nunca vista anteriormente. Com o Renascimento, a universidade guardou conhecimentos e os transmitiu às novas gerações.

Diário – Havia na época a mesma burocracia e o carreirismo que sufoca algumas instituições?
Romano – Na Renascença, as mesmas universidades tinham deixado de ser instrumentos de acúmulo e passagem de saberes e se tornaram órgãos burocráticos a serviço dos estados nacionais, da igreja ou dos mercadores. A maior parte das ciências naturais, das inovações técnicas, das humanidades, foi cultivada fora e contra a universidade. Como diz um dos maiores historiadores da Idade Média, Jacques Le Goff, a universidade, depois do século XVI, passou a ser apenas a “corporação dos queimadores de livros”. Neste movimento, a universidade foi mais um poderoso meio de conservação de saberes já adquiridos e menos um instrumento de inovação. Descartes, Spinoza, Francis Bacon, Leibniz e quase todos os grandes nomes da ciência moderna e da filosofia, tiveram problemas com a universidade. Mas, sem ela, pode-se afirmar, o saber de outras culturas (grega, árabe, indiana, chinesa) não teria passado à Europa e ao mundo moderno.

Diário – Qual o papel que uma universidade pública teria em uma região, como o Grande ABC, que enfrenta dificuldades, sendo o esvaziamento industrial a mais urgente?
Romano – Em primeiro lugar, a universidade serve para trazer saberes mundiais. Ao formar estudantes e professores para o uso de técnicas e conhecimentos amplos e profundos, ela ao mesmo tempo entregará à região e ao país um conjunto de pessoas capazes de assimilar ciências e técnicas e passá-las à indústria, ao comércio, à gestão da coisa pública. Para que isto se consiga, entretanto, é preciso que o ensino e a pesquisa sejam feitos com seriedade e rigor científico. Slogans e esperanças sem lastro, apenas tornam a população, os empresários, os trabalhadores, mais alheios à verdadeira essência do saber atual. Vender esperanças de ascensão social, ou similares, pode ser um caminho perigoso de auto-engano coletivo. A pesquisa e o ensino verdadeiros exigem laboratórios avançados, com instrumentos caros, com pesquisadores bem pagos, com alunos protegidos na sua labuta. A universidade custa caro em todo mundo.

Diário – Mas vale a pena?
Romano – Os países que empregaram recursos em suas universidades, desde o final da Idade Média até hoje, encontram-se no topo do mundo. Os que não tiveram esta prática, como o Brasil (durante toda a colônica, os portugueses nos proibiam até mesmo a leitura de livros científicos, não por acaso os Inconfidentes tinham como programa instaurar no Brasil fábricas e universidades) nunca chegam à hegemonia, são dominados apesar de sua pujança natural e humana. Países como a Coréia deveriam ser um paradigma a ser imitado pelo Brasil. Neles investiu-se muitos recursos nas universidades, aprimorando-se a produção industrial em larga escala.

Diário – Como uma universidade pública contribuiria para o Grande ABC aliar avanço tecnológico com produção industrial de qualidade?
Romano – A pesquisa e o ensino, quando feitos com disciplina e entusiasmo, recolhem saberes do mundo inteiro e asseguram a sua reprodução. Estudantes e professores que fazem mestrado ou doutoramento em países avançados trazem para o Brasil novos métodos, conceitos e tecnologias. É esta a base do crescimento contínuo da produção nacional e regional. Ninguém transforma procedimentos sem trocas com a coletividade planetária, sobretudo com os países que mais avançaram em setores em que o nosso ainda está no início. No Brasil, há 40 anos a pós-graduação deu um salto tremendo de qualidade e de quantidade. Temos bases para um crescimento inusitado em nossa história. É preciso, no entanto, saber aproveitar toda esta riqueza. Infelizmente as autoridades públicas, dos municípios à federação, marcam passo e prejudicam esse imenso trabalho de gerações de cientistas, docentes, técnicos.







Diário – O que será preciso para o governo federal criar efetivamente uma universidade pública no Grande ABC?
Romano – Digamos que seria mais estratégico perguntar o que o Grande ABC pode fazer, para levar ao governo federal propostas realistas de universidade pública aqui. Não tenho receitas de ação. Isto seria tola arrogância de minha parte. Mas creio ser importante, em primeiro lugar, que as autoridades dos municípios do ABC reúnam setores acadêmicos, empresariais, sindicais etc. para pensar o que seria mais adequado à região. Uma pauta pode ser definida, na qual entrassem estudos de viabilidade, custos, pretensões dos poderes públicos e da indústria, do comércio. Simultaneamente, um amplo debate com os contribuintes, os cidadãos. Finalmente, nunca chegar ao Ministério da Educação e demais ministérios e órgãos federais, sem saber exatamente o que se deseja. Caso contrário, os recursos serão de mais árdua apropriação, as justificativas serão menos eficazes. Evidentemente, o trabalho inteiro deve ser acompanhado e apoiado pelos deputados, senadores, vereadores (e também pelo poder judiciário que pode fornecer boas técnicas de viabilização jurídica) de modo permanente. Pressões devem ser feitas, sem tardança, por exemplo, na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados em Brasília.

Uma excelente entrevista com Stanley Kubrick sobre violencia, etc.

Entrevista Stanley Kubrick

Michel Ciment:

Since so many different interpretations have been offered about "A Clockwork Orange," how do you see your own film?

Stanley Kubrick:

The central idea of the film has to do with the question of free-will. Do we lose our humanity if we are deprived of the choice between good and evil? Do we become, as the title suggests, A Clockwork Orange? Recent experiments in conditioning and mind control on volunteer prisoners in America have taken this question out of the realm of science-fiction. At the same time, I think the dramatic impact of the film has principally to do with the extraordinary character of Alex, as conceived by Anthony Burgess in his brilliant and original novel. Aaron Stern, the former head of the MPAA rating board in America, who is also a practising psychiatrist, has suggested that Alex represents the unconscious: man in his natural state. After he is given the Ludovico 'cure' he has been 'civilized', and the sickness that follows may be viewed as the neurosis imposed by society.



Michel Ciment:

The chaplain is a central character in the film.

Stanley Kubrick:

Although he is partially concealed behind a satirical disguise, the prison chaplain, played by Godfrey Quigley, is the moral voice of the film. He challenges the ruthless opportunism of the State in pursuing its programme to reform criminals through psychological conditioning. A very delicate balance had to be achieved in Godfrey's performance between his somewhat comical image and the important ideas he is called upon to express.

Michel Ciment:

On a political level the end of the film shows an alliance between the hoodlum and the authorities.

Stanley Kubrick:

The government eventually resorts to the employment of the cruellest and most violent members of the society to control everyone else -- not an altogether new or untried idea. In this sense, Alex's last line, 'I was cured all right,' might be seen in the same light as Dr. Strangelove's exit line, 'Mein Fuehrer, I can walk.' The final images of Alex as the spoon-fed child of a corrupt, totalitarian society, and Strangelove's rebirth after his miraculous recovery from a crippling disease, seem to work well both dramatically and as expressions of an idea.


Michel Ciment:

What amuses me is that many reviewers speak of this society as a communist one, whereas there is no reason to think it is.

Stanley Kubrick:

The Minister, played by Anthony Sharp, is clearly a figure of the Right. The writer, Patrick Magee, is a lunatic of the Left. 'The common people must be led, driven, pushed!' he pants into the telephone. 'They will sell their liberty for an easier life!'

Michel Ciment:

But these could be the very words of a fascist.

Stanley Kubrick:

Yes, of course. They differ only in their dogma. Their means and ends are hardly distinguishable.

Michel Ciment:

You deal with the violence in a way that appears to distance it.

Stanley Kubrick:

If this occurs it may be because the story both in the novel and the film is told by Alex, and everything that happens is seen through his eyes. Since he has his own rather special way of seeing what he does, this may have some effect in distancing the violence. Some people have asserted that this made the violence attractive. I think this view is totally incorrect.

Michel Ciment:

The cat lady was much older in the book. Why did you change her age?

Stanley Kubrick:

She fulfills the same purpose as she did in the novel, but I think she may be a little more interesting in the film. She is younger, it is true, but she is just as unsympathetic and unwisely aggressive.

Michel Ciment:

You also eliminated the murder that Alex committed in prison.

Stanley Kubrick:

That had to do entirely with the problem of length. The film is, anyway, about two hours and seventeen minutes long, and it didn't seem to be a necessary scene.

Michel Ciment:

Alex is no longer a teenager in the film.

Stanley Kubrick:

Malcolm McDowell's age is not that easy to judge in the film, and he was, without the slightest doubt, the best actor for the part. It might have been nicer if Malcolm had been seventeen, but another seventeen-year-old actor without Malcolm's extra- ordinary talent would not have been better.

Michel Ciment:

Somehow the prison is the most acceptable place in the whole movie. And the warder, who is a typical British figure, is more appealing than a lot of other characters.

Stanley Kubrick:

The prison warder, played by the late Michael Bates, is an obsolete servant of the new order. He copes very poorly with the problems around him, understanding neither the criminals nor the reformers. For all his shouting and bullying, though, he is less of a villain than his trendier and more sophisticated masters.

Michel Ciment:

In your films the State is worse than the criminals but the scientists are worse than the State.

Stanley Kubrick:

I wouldn't put it that way. Modern science seems to be very dangerous because it has given us the power to destroy ourselves before we know how to handle it. On the other hand, it is foolish to blame science for its discoveries, and in any case, we cannot control science. Who would do it, anyway? Politicians are certainly not qualified to make the necessary technical decisions. Prior to the first atomic bomb tests at Los Alamos, a small group of physicists working on the project argued against the test because they thought there was a possibility that the detonation of the bomb might cause a chain reaction which would destroy the entire planet. But the majority of the physicists disagreed with them and recommended that the test be carried out. The decision to ignore this dire warning and proceed with the test was made by political and military minds who could certainly not understand the physics involved in either side of the argument. One would have thought that if even a minority of the physicians thought the test might destroy the Earth no sane men would decide to carry it out. The fact that the Earth is still here doesn't alter the mind-boggling decision which was made at that time.

Michel Ciment:

Alex has a close relationship with art (Beethoven) which the other characters do not have. The cat lady seems interested in modern art but, in fact, is indifferent. What is your own attitude towards modern art?

Stanley Kubrick:

I think modern art's almost total pre-occupation with subjectivism has led to anarchy and sterility in the arts. The notion that reality exists only in the artist's mind, and that the thing which simpler souls had for so long believed to be reality is only an illusion, was initially an invigorating force, but it eventually led to a lot of highly original, very personal and extremely uninteresting work. In Cocteau's film "Orpheus," the poet asks what he should do. 'Astonish me,' he is told. Very little of modern art does that -- certainly not in the sense that a great work of art can make you wonder how its creation was accomplished by a mere mortal. Be that as it may, films, unfortunately, don't have this problem at all. From the start, they have played it as safe as possible, and no one can blame the generally dull state of the movies on too much originality and subjectivism.

Michel Ciment:

Well, don't you think that your films might be called original?

Stanley Kubrick:

I'm talking about major innovations in form, not about quality, content, or ideas, and in this respect I think my films are still not very far from the traditional form and structure which has moved sideways since the beginning of sound.

Michel Ciment:

The film makes a reference to Christ.

Stanley Kubrick:

Alex brutally fantasizes about being a Roman guard at the Crucifixion while he feigns Bible study in the prison library. A few moments later, he tells the prison chaplain that he wants to be good. The chaplain, who is the only decent man in the story, is taken in by Alex's phoney contrition. The scene is still another example of the blackness of Alex's soul.

Michel Ciment:

But why did you shoot this crucifixion scene like a bad hollywood movie?

Stanley Kubrick:

I thought Alex would have imagined it that way. That's why he uses the American accent we've heard so many times before in biblical movies when he shouts, 'Move on there!'

Michel Ciment:

Do you think there is any relationship between this and your interpretation of antiquity in "Spartacus"?

Stanley Kubrick:

None at all. In "Spartacus" I tried with only limited success to make the film as real as possible but I was up against a pretty dumb script which was rarely faithful to what is known about Spartacus. History tells us he twice led his victorious slave army to the northern borders of Italy, and could quite easily have gotten out of the country. But he didn't, and instead he led his army back to pillage Roman cities. What the reasons were for this would have been the most interesting question the film might have pondered. Did the intentions of the rebellion change? Did Spartacus lose control of his leaders who by now may have been more interested in the spoils of war than in freedom? In the film, Spartacus was prevented from escape by the silly contrivance of a pirate leader who reneged on a deal to take the slave army away in his ships. If I ever needed any convincing of the limits of persuasion a director can have on a film where someone else is the producer and he is merely the highest-paid member of the crew, "Spartacus" provided proof to last a lifetime.


Michel Ciment:

You use technical devices which break the narrative fluidity, and the illusion of reality: accelerated action, slow motion, and an unusual reliance on ultra-wide angle lenses.

Stanley Kubrick:

I tried to find something like a cinematic equivalent of Burgess's literary style, and Alex's highly subjective view of things. But the style of any film has to do more with intuition than with analysis. I think there is a great deal of oversimplified over-conceptualizing by some film-makers which is encouraged by the way inter- viewers formulate their questions, and it passes for serious and useful thought and seems to inspire confidence in every direction.

Michel Ciment:

Why did you shoot the orgy in skip-frame high-speed motion?

Stanley Kubrick:

It seemed to me a good way to satirize what had become the fairly common use of slow-motion to solemnize this sort of thing, and turn it into 'art.' The William Tell Overture also seemed a good musical joke to counter the standard Bach accompaniment.

Michel Ciment:

The first three sequences are very striking, employing the same zoom pull-back shots, starting from a close-up and ending on the whole set. How do you prepare this kind of shot?

Stanley Kubrick:

There was no special preparation. I find that, with very few exceptions, it's important to save your cinematic ideas until you have rehearsed the scene in the actual place you're going to film it. The first thing to do is to rehearse the scene until something happens that is worth putting on film -- only then should you worry about how to film it. The what must always precede the how. No matter how carefully you have pre-planned a scene, when you actually come to the time of shooting, and you have the actors on the set, having learned their lines, dressed in the right clothes, and you have the benefit of knowing what you have already got on film, there is usually some adjustment that has to be made to the scene in order to achieve the best result.

Michel Ciment:

There are many sequences -- for example Alex's return to his parents' house or the prison -- in which the camera is very still and the editing reduced to a minimum.

Stanley Kubrick:

I think there should always be a reason for making a cut. If a scene plays well in one camera set up and there is no reason to cut, then I don't cut. I try to avoid a mechanical cutting rhythm which dissipates much of the effect of editing.



Michel Ciment: You did a lot of hand-held camera work yourself, especially for the action scenes.

Stanley Kubrick: I like to do hand-held shooting myself. When the camera is on a dolly you can go over the action of the scene with the camera operator and show him the composition that you want at each point in the take. But you can't do this when the camera is hand-held. Sometimes there are certain effects which can only be achieved with a hand-held camera, and sometimes you hand hold it because there's no other way to move through a confined space or over obstacles.

Michel Ciment:

Most of the shooting was done on location.

Stanley Kubrick:

The entire film was shot on location with the exception of four sets which were built in a small factory which we rented for the production. Nothing was filmed in a studio. The four sets we had to build were the Korova Milk Bar, the Prison Check-in, the Writer's Bathroom, and the Entrance Hall to his house. In the latter case, we built this small set in a tent in the back garden of the house in which we filmed the interiors of the writer's house. The locations were supposed to look a bit futuristic, and we did our preliminary location search by looking through back issues of several British architectural magazines, getting our leads for most of the locations that way.

Michel Ciment:

Was the idea of the Milk Bar yours?

Stanley Kubrick:

Part of it was. I had seen an exhibition of sculpture which displayed female figures as furniture. From this came the idea for the fibreglass nude figures which were used as tables in the Milk Bar. The late John Barry, who was the film's Production Designer, designed the set. To get the poses right for the sculptress who modelled the figures, John photographed a nude model in as many positions as he could imagine would make a table. There are fewer positions than you might think.

Michel Ciment:

It was with "Dr. Strangelove" that you really started to use music as a cultural reference. What is your attitude to film music in general?

Stanley Kubrick:

Unless you want a pop score, I don't see any reason not to avail yourself of the great orchestral music of the past and present. This music may be used in its correct form or synthesized, as was done with the Beethoven for some scenes in "A Clockwork Orange." But there doesn't seem to be much point in hiring a composer who, however good he may be, is not a Mozart or a Beethoven, when you have such a vast choice of existing orchestral music which includes contemporary and avant-garde work. Doing it this way gives you the opportunity to experiment with the music early in the editing phase, and in some instances to cut the scene to the music. This is not something you can easily do in the normal sequence of events.

Michel Ciment:

Was the music chosen after the film was completed? And on which grounds?

Stanley Kubrick:

Most of it was, but I had some of it in mind from the start. It is a bit difficult to say why you choose a piece of music. Ideas occur to you, you try them out, and at some point you decide that you're doing the right thing. It's a matter of taste, luck and imagination, as is virtually everything else connected with making a film.

Michel Ciment:

Is your taste for music linked to the Viennese origins of your father?

Stanley Kubrick:

My father was born in America, and he is a doctor living in California. His mother was Rumanian, and his father came from a place which today is in Poland. So I think my musical tastes were probably acquired, not inherited.

Michel Ciment:

It would appear that you intended to make a trilogy about the future in your last three films. Have you thought about this?

Stanley Kubrick:

There is no deliberate pattern to the stories that I have chosen to make into films. About the only factor at work each time is that I try not to repeat myself. Since you can't be systematic about finding a story to film, I read anything. In addition to books which sound interesting, I rely on luck and accident to eventually bring me together with the book. I read as unselfconsciously as I can to avoid interfering with the story's emotional impact. If the book proves to be exciting and suggests itself as a possible choice, subsequent readings are done much more carefully, usually with notes taken at the same time. Should the book finally be what I want, it is very important for me to retain, during the subsequent phases of making the film, my impressions of the first reading. After you've been working on a film, perhaps for more than a year, everything about it tends to become so familiar that you are in danger of not seeing the forest for the trees. That's why it's so important to be able to use this first impression as the criterion for making decisions about the story much later on. Whoever the director may be, and however perceptively he has filmed and edited his movie, he can never have the same experience that the audience has when it sees the film for the first time. The director's first time is the first reading of the story, and the impressions and excitement of this event have to last through to the final work on the movie. Fortunately I've never chosen a story where the excitement hasn't gone the distance. It would be a terrible thing if it didn't.


Michel Ciment:

What were the various projects that you have dropped?

Stanley Kubrick: One was a screenplay of Stefan Zweig's story, "The Burning Secret," which Calder Willingham and I wrote in the middle fifties, for Dore Schary at MGM, after I made "The Killing." The story is about a mother who goes away on vacation without her husband but accompanied by her young son. At the resort hotel where they are staying, she is seduced by an attractive gentleman she meets there. Her son discovers this but when mother and son eventually return home the boy lies at a crucial moment to prevent his father from discovering the truth. It's a good story but I don't know how good the screenplay was. A few years later, I wrote an incomplete screenplay about Mosby's Rangers, a Southern guerilla force in the American Civil War. Around that time I also wrote a screenplay called "I Stole 16 Million Dollars," based on the autobiography of Herbert Emmerson Wilson, a famous safe-cracker. It was written for Kirk Douglas who didn't like it, and that was the end of it. I must confess I have never subsequently been interested in any of these screenplays. There is also a novel by Arthur Schnitzler, "Rhapsody: A Dream Novel," which I intend to do but on which I have not yet started to work. It's a difficult book to describe -- what good book isn't? It explores the sexual ambivalence of a happy marriage, and tries to equate the importance of sexual dreams and might-have-beens with reality. All of Schnitzler's work is psychologically brilliant, and he was greatly admired by Freud, who once wrote to him, apologizing for having always avoided a personal meeting. Making a joke (a joke?), Freud said this was because he was afraid of the popular superstition that if you meet your Doppelganger (double) you would die.

Michel Ciment:

Did you make a film for American television around 1960 about Lincoln?

Stanley Kubrick:

It was in the early fifties, and I only worked for about a week doing some second unit shots in Kentucky for the producer, Richard de Rochemont.

Michel Ciment:

Your films seem to show an attraction for Germany: the German music, the characters of "Dr. Strangelove," Professor Zempf in "Lolita."

Stanley Kubrick:

I wouldn't include German music as a relevant part of that group, nor would I say that I'm attracted but, rather, that I share the fairly widespread fascination with the horror of the Nazi period. Strangelove and Zempf are just parodies of movie cliches about Nazis.

Michel Ciment:

You seem to be very interested in language. "Lolita" and "A Clockwork Orange" are two films where the manipulation of words play an essential role.

Stanley Kubrick:

Yes, of course I am. But my principal interest in "A Clockwork Orange" wasn't the language, however brilliant it was, but rather, the story, the characters and the ideas. Of course the language is a very important part of the novel, and it contributed a lot to the film, too. I think "A Clockwork Orange" is one of the very few books where a writer has played with syntax and introduced new words where it worked. In a film, however, I think the images, the music, the editing and the emotions of the actors are the principal tools you have to work with. Language is important but I would put it after those elements. It should even be possible to do a film which isn't gimmicky without using any dialogue at all. Unfortunately, there has been very little experimentation with the form of film stories, except in avant-garde cinema where, unfortunately, there is too little technique and expertise present to show very much. As far as I'm concerned, the most memorable scenes in the best films are those which are built predominantly of images and music.

Michel Ciment:

We could find that kind of attempt in some underground american films.

Stanley Kubrick:

Yes, of course, but as I said, they lack the technique to prove very much.

The powerful things that you remember may be the images but perhaps their strength comes from the words that precede them. Alex'S first-person narration at the beginning of the film increases the power of the images.

You can't make a rule that says that words are never more useful than images. And, of course, in the scene you refer to, it would be rather difficult to do without words to express Alex's thoughts. There is an old screenplay adage that says if you have to use voice-over it means there's something wrong with the script. I'm quite certain this is not true, and when thoughts are to be conveyed, especially when they are of a nature which one would not say to another person, there is no other good alternative.

Michel Ciment:

This time you wrote your script alone. How would you equate the problems of writing a screenplay to writing a novel?

Stanley Kubrick:

Writing a screenplay is a very different thing than writing a novel or an original story. A good story is a kind of a miracle, and I think that is the way I would describe Burgess's achievement with the novel. "A Clockwork Orange" has a wonderful plot, strong characters and clear philosophy. When you can write a book like that, you've really done something. On the other hand, writing the screenplay of the book is much more of a logical process -- something between writing and breaking a code. It does not require the inspiration or the invention of the novelist. I'm not saying it's easy to write a good screenplay. It certainly isn't, and a lot of fine novels have been ruined in the process. However serious your intentions may be, and however important you think are the ideas of the story, the enormous cost of a movie makes it necessary to reach the largest potential audience for that story, in order to give your backers their best chance to get their money back and hopefully make a profit. No one will disagree that a good story is an essential starting point for accomplishing this. But another thing, too, the stronger the story, the more chances you can take with everything else. I think "Dr. Strangelove" is a good example of this. It was based on a very good suspense novel, "Red Alert," written by Peter George, a former RAF navigator. The ideas of the story and all its suspense were still there even when it was completely changed into black comedy.

Michel Ciment:

The end of "A Clockwork Orange" is different from the one in the burgess book.

Stanley Kubrick:

There are two different versions of the novel. One has an extra chapter. I had not read this version until I had virtually finished the screenplay. This extra chapter depicts the rehabilitation of Alex. But it is, as far as I am concerned, unconvincing and inconsistent with the style and intent of the book. I wouldn't be surprised to learn that the publisher had somehow prevailed upon Burgess to tack on the extra chapter against his better judgment, so the book would end on a more positive note. I certainly never gave any serious consideration to using it.

Michel Ciment:

In "A Clockwork Orange," Alex is an evil character, as Strangelove was, but Alex somehow seems less repellent.

Stanley Kubrick:

Alex has vitality, courage and intelligence, but you cannot fail to see that he is thoroughly evil. At the same time, there is a strange kind of psychological identification with him which gradually occurs, however much you may be repelled by his behaviour. I think this happens for a couple of reasons. First of all, Alex is always completely honest in his first-person narrative, perhaps even painfully so. Secondly, because on the unconscious level I suspect we all share certain aspects of Alex's personality.

Michel Ciment:

Are you attracted by evil characters?

Stanley Kubrick:

Of course I'm not, but they are good for stories. More people read books about the Nazis than about the UN. Newspapers headline bad news. The bad characters in a story can often be more interesting than the good ones.

Michel Ciment:

How do you explain the kind of fascination that Alex exercises on the audience?

Stanley Kubrick:

I think that it's probably because we can identify with Alex on the unconscious level. The psychiatrists tell us the unconscious has no conscience -- and perhaps in our unconscious we are all potential Alexes. It may be that only as a result of morality, the law and sometimes our own innate character that we do not become like him. Perhaps this makes some people feel uncomfortable and partly explains some of the controversy which has arisen over the film. Perhaps they are unable to accept this view of human nature. But I think you find much the same psychological phenomena at work in Shakespeare's "Richard III." You should feel nothing but dislike towards Richard, and yet when the role is well played, with a bit of humour and charm, you find yourself gradually making a similar kind of identification with him. Not because you sympathize with Richard's ambition or his actions, or that you like him or think people should behave like him but, as you watch the play, because he gradually works himself into your unconscious, and recognition occurs in the recesses of the mind. At the same time, I don't believe anyone leaves the theatre thinking Richard III or Alex are the sort of people one admires and would wish to be like.

Michel Ciment:

Some people have criticized the possible dangers of such an admiration.

Stanley Kubrick:

But it's not an admiration one feels, and I think that anyone who says so is completely wrong. I think this view tends to come from people who, however well-meaning and intelligent, hold committed positions in favour of broader and stricter censorship. No one is corrupted watching "A Clockwork Orange" any more than they are by watching "Richard III." "A Clockwork Orange" has received world-wide acclaim as an important work of art. It was chosen by the New York Film Critics as the Best Film of the year, and I received the Best Director award. It won the Italian David Donatello award. The Belgian film critics gave it their award. It won the German Spotlight award. It received four USA Oscar nominations and seven British Academy Award nominations. It won the Hugo award for the Best Science-Fiction movie. It was highly praised by Fellini, Bunuel and Kurosawa. It has also received favourable comment from educational, scientific, political, religious and even law-enforcement groups. I could go on. But the point I want to make is that the film has been accepted as a work of art, and no work of art has ever done social harm, though a great deal of social harm has been done by those who have sought to protect society against works of art which they regarded as dangerous.

Michel Ciment:

What was your attitude towards violence and eroticism in your film?

Stanley Kubrick:

The erotic decor in the film suggests a slightly futuristic period for the story. The assumption being that erotic art will eventually become popular art, and just as you now buy African wildlife paintings in Woolworth's, you may one day buy erotica. The violence in the story has to be given sufficient dramatic weight so that the moral dilemma it poses can be seen in the right context. It is absolutely essential that Alex is seen to be guilty of a terrible violence against society, so that when he is eventually transformed by the State into a harmless zombie you can reach a meaningful conclusion about the relative rights and wrongs. If we did not see Alex first as a brutal and merciless thug it would be too easy to agree that the State is involved in a worse evil in depriving him of his freedom to choose between good and evil. It must be clear that it is wrong to turn even unforgivably vicious criminals into vegetables, otherwise the story would fall into the same logical trap as did the old, anti-lynching Hollywood westerns which always nullified their theme by lynching an innocent person. Of course no one will disagree that you shouldn't lynch an innocent person -- but will they agree that it's just as bad to lynch a guilty person, perhaps even someone guilty of a horrible crime? And so it is with conditioning Alex.

Michel Ciment:

What is your opinion about the increasing presence of violence on the screen in recent years?

Stanley Kubrick:

There has always been violence in art. There is violence in the Bible, violence in Homer, violence in Shakespeare, and many psychiatrists believe that it serves as a catharsis rather than a model. I think the question of whether there has been an increase in screen violence and, if so, what effect this has had, is to a very great extent a media-defined issue. I know there are well-intentioned people who sincerely believe that films and TV contribute to violence, but almost all of the official studies of this question have concluded that there is no evidence to support this view. At the same time, I think the media tend to exploit the issue because it allows them to display and discuss the so-called harmful things from a lofty position of moral superiority. But the people who commit violent crime are not ordinary people who are transformed into vicious thugs by the wrong diet of films or TV. Rather, it is a fact that violent crime is invariably committed by people with a long record of anti-social behaviour, or by the unexpected blossoming of a psychopath who is described afterward as having been '...such a nice, quiet boy, but whose entire life, it is later realized, has been leading him inexorably to the terrible moment, and who would have found the final ostensible reason for his action if not in one thing then in another. In both instances immensely complicated social, economic and psychological forces are involved in the individual's criminal behaviour. The simplistic notion that films and TV can transform an otherwise innocent and good person into a criminal has strong overtones of the Salem witch trials. This notion is further encouraged by the criminals and their lawyers who hope for mitigation through this excuse. I am also surprised at the extremely illogical distinction that is so often drawn between harmful violence and the so-called harmless violence of, say, "Tom and Jerry" cartoons or James Bond movies, where often sadistic violence is presented as unadulterated fun. I hasten to say, I don't think that they contribute to violence either. Films and TV are also convenient whipping boys for politicians because they allow them to look away from the social and economic causes of crime, about which they are either unwilling or unable to do anything.

Michel Ciment:

Alex loves rape and Beethoven: what do you think that implies?

Stanley Kubrick:

I think this suggests the failure of culture to have any morally refining effect on society. Hitler loved good music and many top Nazis were cultured and sophisticated men but it didn't do them, or anyone else, much good.


Michel Ciment:

Contrary to Rousseau, do you believe that man is born bad and that society makes him worse?

Stanley Kubrick:

I wouldn't put it like that. I think that when Rousseau transferred the concept of original sin from man to society, he was responsible for a lot of misguided social thinking which followed. I don't think that man is what he is because of an imperfectly structured society, but rather that society is imperfectly structured because of the nature of man. No philosophy based on an incorrect view of the nature of man is likely to produce social good.

Michel Ciment:

Your film deals with the limits of power and freedom.

Stanley Kubrick:

The film explores the difficulties of reconciling the conflict between individual freedom and social order. Alex exercises his freedom to be a vicious thug until the State turns him into a harmless zombie no longer able to choose between good and evil. One of the conclusions of the film is, of course, that there are limits to which society should go in maintaining law and order. Society should not do the wrong thing for the right reason, even though it frequently does the right thing for the wrong reason.

Michel Ciment:

What attracted you in Burgess's novel?

Stanley Kubrick:

Everything. The plot, the characters, the ideas. I was also interested in how close the story was to fairy tales and myths, particularly in its deliberately heavy use of coincidence and plot symmetry.

Michel Ciment:

In your films, you seem to be critical of all political factions. Would you define yourself as a pessimist or anarchist?

Stanley Kubrick: I am certainly not an anarchist, and I don't think of myself as a pessimist. I believe very strongly in parliamentary democracy, and I am of the opinion that the power and authority of the State should be optimized and exercized only to the extent that is required to keep things civilized. History has shown us what happens when you try to make society too civilized, or do too good a job of eliminating undesirable elements. It also shows the tragic fallacy in the belief that the destruction of democratic institutions will cause better ones to arise in their place. Certainly one of the most challenging and difficult social problems we face today is, how can the State maintain the necessary degree of control over society without becoming repressive, and how can it achieve this in the face of an increasingly impatient electorate who are beginning to regard legal and political solutions as too slow? The State sees the spectre looming ahead of terrorism and anarchy, and this increases the risk of its over-reaction and a reduction in our freedom. As with everything else in life, it is a matter of groping for the right balance, and a certain amount of luck.



© 1997 - Ignasi A. Mulet Alegre

Feras Militantes

Correio Popular de Campinas
27/02/2007

Roberto Romano


Alguém pediu a justificativa do termo “feras” que usei na semana passada. A palavra choca os afeitos à distinção moderna e cristã entre mundo animal e humano. Existem agitadores políticos que rejeitam a leitura dos escritos que formam a nossa ordem civilizatória. Para tais indivíduos, a leitura de Platão e de Aristóteles é tempo gasto inutilmente. Afinal, a realidade é-lhes trazida pelas ordens do grupo infalível e santo que ordena como se deve pensar, escrever, falar, agir, amar ou odiar. Se pudessem, eles queimariam livros como a Santa Inquisição, mimetizando as fogueiras nazistas, a censura do stalinismo, os atos do Dipe e do Dops. Para que ler Maquiavel, se Lula já resolveu os problemas éticos, jurídicos e políticos, a tudo iluminando? Pensavam de maneira próxima os Tonton Macoute, os discípulos de Bokassa e de Idi Amin Dada.

Não refletiu desse modo Nicolau Maquiavel, o idealizador do Estado democrático e republicano. É conhecida a sua carta a um amigo, dizendo que durante o dia executava as tarefas banais da existência. À noite, colocava as melhores roupas, seguia para o silêncio do escritório e conversava com os antigos filósofos, estadistas, legisladores. Esta é a diferença: quem, à semelhança do sábio florentino, dialoga com os mestres do pensamento, gera ações e práticas que repercutem nos séculos. Quem só lê ou aplica a filosofia dos seus líderes, some na poeira do tempo, como os que seguiam os ensinos de Stalin sobre a lingüística. Quem dialoga com os clássicos, deles recebe um pouco de luz perene. Quem não vai além dos slogans partidários (unidos às agressões contra quem não aceita mordaças na mente e na boca) gasta sua vida pequena em pouco tempo. Assim que os seus donos conseguem o desejado, os executores do “sale boulot” (o serviço sujo) são mortos ou postos em silêncio ignóbil. Após a Noite dos Cristais, na qual os sabujos militantes da SA destruíram as lojas que pertenciam aos filhos de Israel, o pagamento veio com a Noite dos Longos Punhais (29 para 30 de junho, 1934). Na escuridão física os encardidos de alma foram eliminados, porque não tinham mais serventia.
As feras militantes garantem o assalto físico e moral contra os inimigos dos poderosos reais. Elas são perigosas porque ignoram limites. Se quiserem experimentar o que digo, leitores, procurem alguns militantes e deles ousem discordar. Antes, quando seus líderes não estavam no governo, eles apenas rosnavam. Agora, mordem a carne ou a reputação dos críticos. Logo, se não surgir resistência eficaz, podem estraçalhar ossos e músculos dos supostos inimigos. Algo é certo: quando fracassam os líderes, somem os militantes. Em Nuremberg foram julgados alguns dirigentes nazistas, o mesmo ocorreu após o 20 Congresso do PC da URSS.

Mas os milhões de militantes que perseguiram os judeus e os acusados de terrorismo, tanto na Alemanha quanto na União Soviética, nada sofreram. O mesmo ocorreu com os militantes irresponsáveis do macartismo. Eles apenas mudaram de opinião com a nova ordem política. A marca dos fanáticos, que favorece o seu aproveitamento pelos coordenadores de partidos, é a inocência canalha. Eles, literalmente, não sabem o que fazem. E não querem saber. Atacar alguém apenas porque não dobra a espinha ao dono do poder ocasional, traz ao militante medíocre e ressentido a ocasião rara de fazer algo notório. Com o ato baixo, cometido em nome da Causa, ele deixa por um átimo o zero em que habita. O militante não responde, não é responsável, porque não escuta as palavras interpostas entre o seu ódio e a lei.

As feras mais evidentes, no artigo anterior, são os bandidos que esquartejaram uma criança em plena luz diurna. Mas existem feras tão violentas quanto eles. Não por acaso, na República, Trasímaco, o defensor dos mais fortes, jogou-se contra Sócrates e seus amigos, “retesando-se, qual uma fera, investiu contra nós, como para nos dilacerar” (336 b) E qual era a tese de Trasímaco? “Cada governo estabelece as leis para sua própria vantagem (…) o justo é uma e mesma coisa: o vantajoso ao governo constituído; ora, este é o mais forte, donde segue, para todo homem que raciocina corretamente, que em toda parte o justo (…) é o vantajoso ao mais forte” (339a).

Os filhos de Trasímaco investem contra os críticos do mais forte. É bom recordar que militantes, em dias anteriores ao mando, anunciam diálogo, debate democrático e outras bravatas. Instalados nas soleiras dos gabinetes, tentam calar os opositores. São feras. Mas cedo ou tarde toda fera é jogada em gaiolas pelos próprios donos. O costume de estraçalhar pode produzir estragos indesejados pelos poderosos. Naquele instante, os bichos erram o bote, algo fatal para eles, mas sem maiores consequências. E quem responde pelas mortes éticas ou físicas causadas pelas suas garras certeiras?

Para a proxima vista pontificia....

Tu es Petrus…..


“Tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam”. “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. E dou-te as chaves do reino celeste: tudo o que ligares na terra será ligado no céu. E tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Nada mais esperançoso e ao mesmo tempo apavorante, na história das instituições ocidentais, do que as linhas acima, inscritas no Evangelho de Mateus ( 16, 18-19). O poder ilimitado atribuido ao papa incendeia as imaginações políticas, artísticas, sociais. Poetas e romancistas reproduziram as pompas que norteiam a vida e a morte dos soberanos pontífices. A Igreja, afirma Nietzsche, resume as culturas do Mediterrâneo. Ela sintetiza os ritos dos Estados antigos e modernos, do Egito às festas imperiais romanas e renascentistas. Nietzsche indica com dedo certeiro: o paganismo se instalara no trono de Pedro. Um monge inimigo da cultura destruiu o elo perfeito entre o mundo e o cristianismo. Seu nome? Lutero….

A Igreja recolhe as tradições políticas dos Estados que a predecederam e produz uma antropologia na qual todos os sentidos humanos servem aos seus alvos. Nela, os olhos se extasiam com pinturas e arquitetura hierática; os ouvidos recebem alimento com a música e a poesia ; o paladar se nutre das espécies sagradas, pão e vinho; o olfato se inebria com incenso e perfumes das velas; o tato é satisfeito na ritualística que permite aos crentes tocar as reliquias dos santos. Uma tal enciclopédia de artes e saberes é única na humanidade; árduo é harmonizar todos os sentidos. Para isto, serve a filosofia grega e o direito romano. A Igreja controla os fiéis com uma ordem nunca vista em outros segmentos religiosos e políticos. Sua disciplina espanta os donos do mundo. Stalin cometeu a tolice de ironizar a força bélica do soberano pontífice. A URSS desapareceu e o Vaticano segue impávido.

Elias Canetti fala sobre a Igreja: “Até hoje não houve sobre a face da Terra Estado algum que soubesse defender-se de tantas maneiras diferentes contra a massa. Comparados com a Igreja, todos os poderosos dão a impressão de serem modestos diletantes”. O tempo da Igreja mede-se em milênios: os que ela herdou das antigas civilizações (India, Grécia, Egito, Pérsia, Roma, entre outras) e os que já viveu. Ela supera a cronologia dos agentes políticos não religiosos, porque tem a promessa do intemporal, como adverte um orgulhoso Príncipe no magnífico Gattopardo : “à Igreja foi prometida a Eternidade, não temos semelhante privilégio, nós que integramos as classes sociais dominantes”. A Mater et Magistra possui a receita eficaz para sobreviver a todos os regimes políticos, expressa ainda no Gattopardo : “é preciso tudo mudar, para que tudo permaneça como sempre”.

Nenhum soberano cumpriu tão perfeitamente a missão disciplinadora das massas quanto João Paulo 2. Ele chegou ao trono no fim da Guerra Fria e no colapso da URSS. Na sua própria instituição, uma tempestade batia forte, com os ventos do Vaticano 2. Um bom pastor inaugurou o concílio, o santo João 23. Um papa hamletiano —Paulo 6— intelectual e temeroso, o conduziu ao final. Morto aquele dirigente e pensador a Igreja se contorcia em dilemas éticos e políticos, além de batalhas sobre o culto que ameaçavam sua unidade. Surge o “belo sorriso” —João Paulo 1— o papa breve. No programa daquela figura amável já se inscrevia o Termidor, necessário para garantir a disciplina do clero e das massas católicas. Mas a missão política e religiosa de colocar um basta nas audácias conciliares foi cumprida por João Paulo 2.


Erudito, poliglota, treinado nas artes cênicas, o polonês falou aos mais sofisticados cérebros e às massas tangidas pela midia. Ele exibiu de si mesmo a figura do esportista. Assim viajou muito e publicou encíclicas polêmicas e bem estruturadas lógicamente. Nessas tarefas teve o auxílio de movimentos conservadores e de políticos idem, da Opus Dei a Ronald Reagan. Ele apoiou ditadores como Pinochet. Além dos gestos do proprio soberano pontífice, abraçando efusivamente o ditador, François Hutart (Le Monde) recolheu pérolas de suas “bocas oficiais”, os bispos e núncios apostólicos, em apoio às tiranias. Na Argentina (1976) o núncio, hoje Cardeal Pio Laghi, falou assim aos soldados de Tucuman : « Sabeis o que é a pátria, cumpri as ordens com obediência e coragem, guardai o espírito sereno”. (La Nación, Buenos Aires, outubro de 1976). No Chile, o núncio sob Pinochet era o cardeal Angelo Sodano, que declarou sobre o regime: “Até as obras primas podem ter manchas; eu vos convido a não vos deter nas manchas do quador, mas a olhar o conjunto, que é maravilhoso”. No caso Irã/Contras, existem dúvidas sobre a ação da Santa Sé, como indicam os melhores biógrafos do papa, Carl Berstein (caso Watergate) e Marco Polito (Sua Santidade. João Paulo 2 e a história secreta do nosso tempo), que lembram outras maravilhas do soberano pontífice. François Hutart recorda que o Banco Ambrosiano financiou, entre outros, ditador Anastasio Somoza da Nicaragua. Leia-se o artigo de Fernando Scianna, « A Mafia no coração do Estado e do contra Estado », Le Monde diplomatique, outubro de 1982.


As teses de João Paulo 2 resumem-se ao aggiornamento do Concilio de Trento, usado como base para implodir as doutrinas inovadoras do Vaticano 2. A sua autoridade foi elevada acima de tudo e de todos. As católicas feministas e os propagandistas da “teologia da libertação” sentiram nas costas o seu peso. Além dessas rédeas espirituais, o papa rompeu com a possibilidade remota do ecumenismo. O texto Dominus Jesus acabou com o diálogo entre Roma e as religiões orientais. No setor cristão, as atitudes da Santa Sé no Conselho Mundial de Igrejas mostrou tudo, menos desejo de amplo diálogo. Além disso, o papa atenuou a autoridade dos bispos.

A Opus Dei foi elevada à condição de sua Prelatura pessoal, posta acima dos bispos. O seu fundador foi canizado em 2002. No mesmo tempo, escândalos financeiros (como o caso do Banco Ambrosiano) fizeram estragos nas contas da Igreja. Os tratos do Vaticano com os EUA são complexos e não raro inconfessáveis.

Erasmo de Rotterdam escreveu uma peça acusatória contra o Papa Julio 2, o que lhe valeu muita perseguição no século 16. Trata-se de um opúsculo intitulado “Julio, a quem se negou a entrada nos céus”. Aquele pontífice ficou famoso por comandar exércitos na santa tarefa de disciplinar os reinos e as populações italianas. Ele também ficou conhecido pela fome de impostos que pretendeu arrancar de cidades soberanas como Bolonha. Mais adepto das armas do que do Evangelho, o soberano morreu, conta Erasmo, e dirigiu-se, com armas e armaduras, às portas celestes. São Pedro não lhe permitiu a entrada no paraíso e o fulminou, comparando-o a si mesmo. Pedro nunca dirigiu nenhuma soldadesca, jamais pensou controlar a vida política dos fiéis, nunca dependeu de poder secular. Manso como o Cristo, sua missão foi desenvolvida em pobreza e caridade.

Existiram papas santos, como João 23, ou intelectuais, como Pio 12 e Paulo 6. Existiram papas estadistas e disciplinadores das massas e das mentes, como João Paulo 2. No caso deste último, a imaginação dos romancistas já produzem obras nas quais o pontífice aparece como homem de ferro. Um Richelieu do nosso tempo, com a inteligência estratégica de Bismarck. Quem deseja tremer diante do futuro, devido ao legado de João Paulo 2, leia o romance bem escrito publicado recentemente nos EUA por Arun Pereira : Papal Reich. A novel. O título diz tudo: os novos poderes mundiais deixam de ser os Estados laicos. Surge a velha Respublica Christiana em seu esplendor. No outro lado do mundo, renasce o Islã. Ambos lutam para vencer os infernos. E os infernos reúnem os que não aceitam o mando clerical, os “infiéis”. Pesadelo? Imaginação louca? Apenas advertência de um escritor que sabe ler os sinais dos tempos.

Revista Cult

Santa Teresa de Jesús, crítica da ética.

Roberto Romano

Nada mais estranho à experiência mística do que o automatismo ético. A primeira abre sendas para o Absoluto e o segundo fecha almas e corpos nos ritos estereotipados do cotidiano e dos preconceitos. Flaubert narra, no conto “Um coração simples”, o drama religioso de uma pobre alma que perdeu gradativamente as referências objetivas do mundo. Felicidade, nome da mulher que auxilia uma senhora morta há pouco tempo e cuja habitação se esvaziou de móveis e de gente, segue um calvário de ilusões e tristezas. A piedosa Felicidade confunde seu papagaio com o ser divino: “envolvendo-o com um olhar angustiado, ela implorava ao Espirito Santo e contraiu o hábito idólatra de rezar, ajoelhada, diante do papagaio. Algumas vezes, o sol penetrava pela janela e feria seu olho de vidro, fazendo jorrar um grande raio luminoso que a punha em êxtase”.

Insistamos nos elementos dessa narrativa. A relação com o divino, como nas grandes experiências religiosas e filosóficas ocidentais, valoriza os olhos. A humilde Felicidade retoma um culto ao sol bem anterior ao cristianismo, cerimônia que surgiu de remotas eras e chegou ao século 18, a época das Luzes. O platonismo que molda boa parte do pensamento cristão insiste no vínculo entre os olhos e a divinização humana. O ápice dessa doutrina verificou-se, pouco antes de Flaubert, no pensamento europeu dos séculos 18 e 19. Das páginas redigidas pelo Pseudo-Dionísio Areopagita (que viveu no quarto ou quinto século depois de Cristo) aos escritos de Goethe, a semelhança entre o Absoluto e o Sol define as formas contemplativas do Ocidente. Indica o Pseudo-Dionisio: “porque como o nosso astro solar —não por cálculo ou escolha, mas pelo seu próprio ser, ilumina todas as coisas para espalhar sua luz, cada um em seu gráu— assim o Bem, como superior ao sol, como arquétipo por excelência, está acima de toda imagem obscura e envia para todas as coisas os raios de sua bondade, segundo as suas capacidades. Por esses raios subsistem todas as essências inteligíveis e inteligentes com suas energias e poderes” (Sobre os nomes divinos).

“Deus”, afirma Tomás de Aquino, um seguidor parcial do Pseudo-Dionísio, “não quer que se faça o mal, nem quer que não se faça; o que Ele quer é permitir que se faça, e isto é bom” (Summa Theologia, 1 q. 19 a 9). O espelho terrestre foi embaçado pelo hálito pestilento do mal, mas pode ser limpo e resplandecer novamente. A criaturas atingem a perfeição no campo iluminado pelo brilho divino. No capítulo sobre a luz e a visão dos homens, Aquino refuta a aproximação entre os últimos e o morcego “que não pode ver o mais visível, o Sol, por causa precisamente do excesso de luz”.Os homens não nasceram para a lamentável escuridão e seu alvo é a perfeita alegria da vista: “como a suprema felicidade do homem consiste na mais elevada de suas operações, a do intelecto, se este nunca pudesse ver a essência divina, segue-se que o homem nunca alcançaria a felicidade, ou que esta é algo distinto de Deus, o que se opõe à fé (...) uma coisa é tanto mais perfeita, quanto mais se une ao princípio”. Logo, “os bem aventurados vêem a essência divina” (Summa 1 q. 12 a 1). Mas como pode o homem unir-se ao divino? Os anjos e a sua hierarquia, espelhada na hierarquia eclesiástica, dão a primeira resposta. A segunda foi explicitada por Tomás de Aquino: “é indispensável que, em virtude da Graça, seja-lhe concedido o poder intelectual e este acréscimo de poder é o que chamamos iluminação do intelecto, bem como chamamos luz ao objeto inteligível. Esta é a luz de que fala o Apocalipse referindo-se à sociedade dos bem aventurados que vêem a Deus, que a claridade de Deus a ilumina e graças a esta luz se fazem deiformes, isto é, semelhantes a Deus (idest Deo similes)” (Summa, 1 q. 12 a 5). Os entes humanos, pela Graça, tornam-se iguais a Deus na contemplação beatífica, na transcendência eterna.

Passaram-se os tempos e no século dezenove lemos no “Prefácio” da Doutrina das Côres, escrito polêmico de Goethe contra Isaac Newton: “se o olho não fosse solar, como poderíamos ver a luz? Se em nós não vivesse a própria força divina, como poderia extasiar-nos o que é divino?”. Retomada por Schelling, filósofo e místico do idealismo alemão, a fórmula recebera um tratamento irreligioso na pena dos Enciclopedistas francêses. Sem Deus, pensam os “Philosophes”, os olhos expressam o espírito que nos resta e o melhor em nós. “O olho pertence à alma mais do que todos os demais órgãos, ele exprime…as paixões mais vivas, as emoções mais tumultuosas, assim como os movimentos mais suaves e o sentimentos mais delicados; ele as mostra em toda a sua força, toda sua pureza, tal como acabaram de nascer; ele as transmite por clarões rápidos que levam até uma outra alma este fogo, a ação, a imagem daquela de onde partem. O olho recebe e reflete ao mesmo tempo a luz do pensamento e o calor do sentimento” (Enciclopédia dirigida por Denis Diderot, artigo “Olho”).

A herança de Platão, poeta sublime, é evidente em nas passagens citadas acima. Mesmo o lado aristotélico do pensamento ocidental, incluindo o cristianismo, sorve da água cristalina que brota dos Diálogos. No De Anima, Aristóteles compara a atividade do intelecto agente à da luz, metáfora que determinou a maior parte de nossas doutrinas sobre o conhecimento e a prática. Para quem, na antiga Igreja Católica, levou adiante a reflexão sobre os exercícios místicos, como Orígenes, o conhecimento de Cristo segundo o corpo compara-se à sombra, o saber de acordo com o espiritual aproxima-se da luz. Pedro, o Venerável, fala de uma luz invisível que resplandece de repente na alma.

Santa Teresa, a grande mística da modernidade com João da Cruz, afirma não entender direito o que os mestres espirituais da Igreja aludem com a metáfora das luzes e do sol. No Livro da Vida ela escreve com aparente ingenuidade: “em alguns livros sobre a oração dizem que, embora a alma não possa chegar por si mesma a este estado (contemplativo), porque ele inteiro é obra sobrenatural do Senhor, seria possível ajudar-se liberando o espírito de tudo o que é criado e erguê-lo com humildade, depois de muitos anos de vida purgativa, e aproveitando a vida iluminativa. Não sei bem porque dizem ´iluminativa´”. Não sei bem…com o pequeno enunciado, a mais poderosa alma poética e mística do cristianismo moderno joga montes de teorias sobre a luz na obscuridade.

Quando uma idéia, conceito, prática, tornam-se “verdadeiros” porque habituais, perdem o significado vivo que possuiam quando foram gerados no intelecto e na alma. Este foi o destino da figura solar no mundo moderno. A secura que envolveu a imagem da luz como símile da união entre Deus e o homens, fez brotar a visão melancólica de Flaubert, evocadas acima, sobre o modo “contemplativo” de Felicidade. O automatismo, as repetições, cauterizaram o útero gerador de significados na metáfora solar. Teresa de Jesus “não entende” o símile, justo porque experimenta a mais elevada situação mística. O lugar comum sobre a luz nada lhe diz no instante em que sua existência é arrebatada pelo divino. Falar em luminosidade para exprimir os vínculos entre o finito e o infinito tornou-se banal, retórica vazia e, mesmo, garrulice ensandecida.

O conto de Flaubert sobre a “mística” Felicidade tem o mesmo tom corrosivo do terrível Dicionário de Idéias Recebidas. E retoma a desconfiança, expressa por Santa Teresa, diante das metáforas das luzes. As palavras e conceitos, gastos pelo tempo e pela repetição, perdem o valor, são moedas sem cara ou coroa. E chegam à tolice que mimetiza o espiritual mas conduz à pobre animalidade. É a mesma passagem da pomba, evocando o Santo espírito, ao papagaio. Este fala, mas seus vocábulos reiteram a parolagem vazia, nunca o Logos que fertiliza o universo dos sentidos. Quando ouvimos um lugar comum proclamado com certeza dogmática, ficamos embaraçados, com vergonha de nós mesmos. Esta experiência aparece em quase todos os instantes da vida social, política, econômica. Na religião, semelhante tortura também se repete, especialmente quando o padre, no sermão enfadonho e mecânico, caminha para o lugar comum e o “fiel”, assim alimentado, escreve sua vida de fé copiando modelos gastos por milênios de uso.

No conto de Flaubert, Felicidade (quanta crueza neste nome!) nada compreendia dos dogmas católicos. Nas preleções sobre religião, lemos alí, “o padre discorria, as crianças recitavam ….foi dessa maneira, por muito escutar, que ela aprendeu o catecismo.” Uma crítica literária preocupada com a psicanálise afirma sobre esta passagem: “o exercício sociolingüístico da repetição torna-se uma espécie de aprendizado, um condicionamento, um automatismo. Toda prática lingüïstica repetitiva veicula uma potência de hipnose que induz o indivíduo a comportamentos sociais ou mentais estereotipados, nos quais ele abdica de sua subjetividade. Felicidade é assim habitada por automatismos da linguagem”. (Shoshana Felman, “Gustavo Flaubert, Folie et Cliché”, in La folie et la chose littéraire, Paris, Seuil, 1978).

Repetição de falas, imagens, gestos: estamos em pleno campo da ética e dos costumes. Quando um discurso ou constelação de figuras são gerados, eles cumprem ou não o papel de unir pessoas ou povos. Se conseguem fazer isto, são repetidos e copiados. E começa o automatismo. Os herdeiros de uma cultura a retomam como se ela fosse natural, inquestionável, como se ela valesse no pretérito e no futuro, tivesse a forma de um tesouro inexaurível. Desta fonte nascem os costumes e as suas justificativas, surgem os preconceitos e o fanatismo. Este último consiste em acreditar nas palavras habituais, retomando gestos idem. O fanático se transforma numa fria máquina que repete fórmulas tidas por ele como “evidentes”. O fanático jamais duvida. Ele mata o pensamento em si mesmo e os sentidos de sua alma. O fanático resseca toda lógica viva nas frases, no espírito. Ele repete, como papagaio, o “verdadeiro” do qual, lhe asseguram, é o único proprietário.

Um santo ou místico não é fanático. A “ingênua” afirmação de Teresa de Jesus mostra o ponto. Ela não sabe o que significa a metáfora da luz na experiência anímica, duvida de um conjunto imagético que veio da Grécia clássica, atravessou o helenismo e a Idade Média, invadiu o mundo moderno para determinar o saber perfeito e universal. É duvidar de muita coisa! Com semelhante dúvida, ela também se expõe aos zeladores do reiterativo, no caso de Teresa, da Santa Inquisição. Como têm dúvidas, a Santa também suspeita dos costumes, do automatismo que congela o espírito em “práticas” canônicas. A experiência, descrita por Flaubert na pessoa de Felicidade, já fora criticada no Renascimento pelo cético Montaigne.

Montaigne afirma com tranquila condescendência : “concebeu muito bem a força do costume, aquela pessoa que forjou este conto: certa camponesa, tendo aprendido a acariciar e trazer nos braços um vitelo desde a hora do seu nascimento, e continuando sempre a fazer a mesma coisa, acostumou-se tanto que, embora o vitelo tenha se trasnformado num boi, ela ainda o carregava. Pois o costume, na verdade, é um mestre violento e traidor. Ele estabelece em nós, pouco a pouco, à socapa, o pé de sua autoridade: mas com esse doce e humilde começo, tendo-o afirmado com ajuda do tempo, ele nos mostra uma face tirânica e furiosa, contra a qual não temos mais a liberdade de sequer levantar os olhos. Nós o vemos forçar todos os golpes das regras naturais: Usus efficacissimus rerum omnium magister. (…) o costume idiotiza nossos sentidos (…) e o que é mais estranho, que apesar de longos intervalos, o costume possa unir e estabelecer o efeito de sua impressão sobre nossos sentidos: como experimentam os visinhos dos campanários. Moro numa torre onde um enorme sino toca todos os dias a Ave Maria. Este barulho espanta até mesmo a minha torre, e nos primeiros dias é insuportável, e pouco depois me domestica de tal modo que o escuto sem dores. Platão reprovou um menino que jogava. A criança lhe respondeu: ‘me reprovas por algo insignificante. O costume, replicou Platão, não é algo insignificante’. (Ensaios: “Sobre o costume e sobre não mudar fácilmente uma lei recebida”).

Teresa de Jesus tinha dúvidas sobre as metáforas da luz como fonte de contemplação e desaconselhou o costume. Na Visita de Descalzas, lemos o seguinte: “o costume é uma coisa terrível em nossa natureza, e pouco a pouco e em poucas coisas são feitos agravos irremediáveis à Ordem….”. Pouco a pouco, no diagnóstico sobre a tirania ética (dos costumes), concordam o cético Montaigne e a santa religiosa. No Camino de perfección, diz ela: “Grandes danos são feitos ao começar um costume ruim, mais gostaríamos de morrer do que significar a causa desse fato”. Ao longo dos escritos de Santa Teresa, encontram-se advertências contra os costumes. Eles não levam à experiência contemplativa autêntica, nem encaminham para a santidade. São espécies de automatismos que afastam a via mística e determinam apenas o que é humano, demasiado humano.

O mundo religioso abarca as mais diversas e contraditórias formas de vida e de morte. Todos os que leram os grandes místicos se acostumaram a neles encontrar liberdade e carinho para com os sentidos humanos, para com os outros viajantes na estrada do Absoluto. Neles, não encontramos a rigidez cadavérica dos fanáticos que repetem cultos, gestos e palavras, repetem costumes. A seiva espiritual percorre cada ato dos místicos verdadeiros, neles revelando piedade e amor pelos que pensam e agem de maneira diversa. Um carola seco e impiedoso, preso nas sacristias ou nos palácios de governo, só conhece a letra fria da lei, estranha o espírito que lhe dá alento. O místico autêntico joga-se no divino com a voragem da esposa, no Cântico dos Cânticos. Um enlace erótico assim, descentra o sujeito, abre todos os seus poros para o Outro. Ele não mais se preocupa com o pequeno Eu que o prende ao ordenamento do mundo. Ele não mais se imagina como fonte de poder e de mando, não aceita mais o papel de máquina que serve à disciplina mecânica e aos preconceitos éticos. Ele é livre. Quem duvidar, leia as belíssimas Meditaciones sobre los Cantares. Aliás, o comentário de Teresa foi condenado à fogueira em 1580, por motivos evidentes: o fanatismo sentiu-se, como sempre, incomodado. Graças aos céus o texto chegou até nós, estropiado mas com muito sentido. Quem deseja saber o que significa contemplação mística, leia aquele escrito. Verá que o relato de Flaubert retoma a face mais triste do cristianismo, não a sua esplêndida fronte humana, a qual se desenha na figura de Teresa.

Revista Cult

Por que o Ocidente venceu ?

Roberto Romano

Platão condena a “caça ao homem” praticada nos conflitos entre povos e o teatro grego denuncia os sofrimentos dos que, devido às guerras, herdam a escravidão. “Ama a guerra quem nunca esteve nela” é o título do adágio erasmiano que precisa ser reproduzido no mundo inteiro. Erasmo expõe a miséria espiritual e física do belicismo. Um texto a ser filmado é o Paraíso Perdido de John Milton. Parece que Eisenstein planejou sua encenação. Naquele poema, Lucifer deseja o poder e desafia Deus Pai quando o Cristo é indicado como sucessor do reino celeste. Cheio de inveja, Satã ensaia um golpe de Estado e logo é expulso do Eden. O Paraíso Perdido descreve batalhas, emboscadas, canhões, coragem e trevas. Ao contrário dos cineastas holywoodianos, cujos heróis matam e são absolvidos por atrocidades cometidas, o demônio encarna o fracasso da guerra, visto que ela só reúne técnicas contrárias à vida. A luta pela hegemonia não tem fim, o pandemônio guerreiro avilta o cosmos divino em caos e barulho sanguinário. Dizem alguns que as críticas à guerra indicam “moralismo”. O melhor, argumentam, seria obedecer a natureza pois esta última exige o fato bélico. Poucos assumem o elogio das artes marciais com lógica coerente. Tucídides (A guerra do Peloponeso) apresenta o tema sem meias palavras. Quem o analisa sai convencido da legitima necessidade das batalhas ou é vencido por um horror sagrado, dirigido contra a arte de trucidar corpos e almas.

Victor Davis Hanson pode ser incluído no rol dos autores coerentes. Especialista na guerra antiga, ele conhece as nossas batalhas. Desde um pungente e magnífico estudo sobre o belicismo grego (The Western Way of War) ele tornou-se obrigatório nas bibliografias especializadas. Acadêmico de primeira plana, o autor apresenta hipóteses validadas por experimentos. Hanson usou seus alunos para testar o que diziam os antigos sobre a tarefa de destruir vinhas — essencial num conflito entre camponeses, como os gregos— e sobre o peso das armaduras, dos escudos, o tempo das corridas, etc. O domínio de toda a documentação, mais a cautela experimental, fazem dos seus livros fontes valiosas .

Os EUA produzem estranhos intelectuais empenhados. Na esquerda temos N. Chomsky, brilhante pesquisador do MIT, acadêmico que possui ampla obra crítica. Chomsky age, entretanto, não raro, como panfletário. Seus textos precisam ser lidos com cautela: entre análises geniais, escapa muito dogmatismo simplista em prejuízo do conhecimento adequado. Na paixão contra o Estado de Israel, ele assumiu slogans anti-semitas, o que lhe valeu admoestações de pensadores como Pierre Vidal-Naquet. Vitor Davis Hanson é o lado complementar, na direita, de Noam Chomsky. Seus escritos trazem a mesma paixão pelas próprias teses, as mesmas certezas dogmáticas (invertidas) de seu colega do MIT. A leitura de Hanson ensina muito sobre a guerra; o mundo antigo; as novas culturas do Renascimento e as formas atuais de controle civil e militar. Mas fica patente uma defesa apologética e irracional dos EUA e de seu poderio.

As teses de Hanson são translúcidas: os gregos inventaram a democracia, a liberdade individual, os direitos humanos, além do pensamento científico que lhes deu o controle do tempo e do espaço, essenciais em qualquer imperio. Com base neste legado os cristãos venceram o Oriente, apropriando-se inclusive dos inventos orientais para racionalizar e potenciar exércitos. As conquistas espanholas, portuguêsas, inglêsas, francêsas, belgas e alemãs no período moderno, até a Guerra do Vietnã e ao Iraque, devem-se à disciplina das tropas ocidentais unida à liberdade democrática. A democracia causa a superioridade científica e bélica do Ocidente, hoje consubstanciado nos EUA. O ethos guerreiro, alí, une-se aos hábitos racionais e à democracia. A soma daqueles itens produz a superioridade militar estratégica, que não se confunde, afiança Hanson, com qualquer apelo ao racismo ou a juízos etnocêntricos. Dificil acreditar, mas o autor jura sobre a Biblia que é assim….

Foi traduzido para a nossa lingua o seu trabalho mais denso : Por que o Ocidente venceu. Massacre e cultura – da Grécia antiga ao Vietnã (RJ, Ediouro, 2004, o original é de 2001), em cujas páginas desfilam as razões indicadas acima para o predomínio bélico do Ocidente. Se prestarmos atenção aos motivos, veremos que a citada hegemonia é definitiva e que muito dificilmente os inimigos dos EUA e da Europa poderão enfrentá-los com eficácia, sem apoderar-se das suas técnicas em geral, da ciência e do refinamento lógico. E sem adotar o regime democrático. O Ocidente venceu e vencerá em qualquer hipótese, porque os adversários, numa possível guerra mundial futura, empregarão armas, estratégias, disciplinas ocidentais contra o Ocidente. Para que seus batalhões possam operar com eficácia, eles deixarão a ordem política tirânica do Oriente (imaginem a China comunista) e se converterão ao mercado e à liberdade individual democrática.

Nos enunciados de Hanson nem tudo é exato. Várias afirmações suas sobre a Grécia antiga e sobre os EUA não ultrapassam a densidade do whishfull thinking. Mas trata-se de um contributo inteligente para a governança de G.W. Bush (apoiado entusiasticamente por ele), o que é novo para os que não aceitam os alvos imperiais norte-americanos. Urge desconfiar de análises simplistas sobre adversários. Dizer que Bush é um tolo filho de texano direitista (ao modo do simplório e patético —maniqueu em todos os sentidos— usado por Michael Moore) pode consolar. Mas fica esquecido o fato de que o presidente dos EUA dispõe de cérebros vivos e eruditos, como Hanson, para afinar argumentos e prever situações estratégicas. Nenhum império sobrevive sem violência física e carente de intelectos agudos. No Brasil, quando sob a ditadura a esquerda ria das piadinhas sobre os militares, supostamente idiotas, montou-se a máquina mais eficiente de repressão, desde a ditadura Vargas. Cautela com o riso quando se trata de Bush : ri melhor, como diz o Sobrinho de Rameau diderotiano, apenas quem ri por último. E nos faltam ainda muitos conhecimentos, técnicas, disciplina, liberdade e democracia para enfrentar os potentes “irmãos do norte”.
Graças à ajuda do meu amigo Paulo, a quem agradeço!
Vejamos se deu certo.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Brasiu....

Lista das 200 mais importantes universidades no mundo.
http://www.netscape.com/


School Name Country
1 Harvard University United States
2 University of Cambridge United Kingdom
3 University of Oxford United Kingdom
4= Massachusetts Institute of Technology United States
4= Yale University United States
6 Stanford University United States
7 California Institute of Technology United States
8 University of California, Berkeley United States
9 Imperial College London United Kingdom
10 Princeton University United States
11 University of Chicago United States
12 Columbia University United States
13 Duke University United States
14 Peking University China
15 Cornell University United States
16 Australian National University Australia
17 London School of Economics and Political... United Kingdom
18 Ecole Normale Supérieure France
19= National University of Singapore Singapore
19= University of Tokyo Japan
21 McGill University Canada
22 University of Melbourne Australia
23 Johns Hopkins University United States
24 ETH Zurich Switzerland
25 University College London (UCL) United Kingdom
26 University of Pennsylvania United States
27 University of Toronto Canada
28 Tsing Hua University China
29= Kyoto University Japan
29= University of Michigan United States
31 University of California, Los Angeles United States
32 University of Texas at Austin United States
33= University of Edinburgh United Kingdom
33= University of Hong Kong Hong Kong
35= University of Sydney Australia
35= Carnegie Mellon University United States
37 École Polytechnique France
38 Monash University Australia
39 University of Geneva Switzerland
40 University of Manchester United Kingdom
41 University of New South Wales Australia
42 Northwestern University United States
43 New York University United States
44 University of California, San Diego United States
45 University of Queensland Australia
46= King's College London United Kingdom
46= University of Auckland New Zealand
48= University of Rochester United States
48= Washington University in St. Louis United States
50= Chinese University of Hong Kong Hong Kong
50= University of British Colombia Canada
52 Sciences Po Paris France
53 Vanderbilt University United States
54= Brown University United States
54= University of Copenhagen Denmark
56 Emory University United States
57 Indian Institute of Technology India
58= Hong Kong University of Science & Techno... Hong Kong
58= Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg Germany
60 Case Western Reserve University United States
61= Nanyang Technological University Singapore
61= Dartmouth College United States
63 Seoul National University South Korea
64= University of Bristol United Kingdom
64= Ecole Polytechnique Fédérale de Lausanne... Switzerland
66 Boston University United States
67 Eindhoven University of Technology Netherlands
68 Indian Institute of Management India
69 University of Amsterdam Netherlands
70= School of Oriental and African Studies United Kingdom
70= Osaka University Japan
72 Ecole Normale Supérieure Lyon France
73 University of Warwick United Kingdom
74 Universidad Nacional Autónoma de México Mexico
75 University of Basel Switzerland
76 Catholic University of Louvain Belgium
77 University of Illinois United States
78 University of Dublin, Trinity College Ireland
79= University of Otago New Zealand
79= University of Wisconsin United States
81 University of Glasgow United Kingdom
82= Macquarie University Australia
82= Technische Universität München Germany
84 University of Washington United States
85 University of Nottingham United Kingdom
86 Delft University of Technology Netherlands
87 University of Vienna Austria
88 University of Pittsburgh United States
89 University of Lausanne Switzerland
90= University of Birmingham United Kingdom
90= Leiden University Netherlands
92 Erasmus University Rotterdam Netherlands
93= Lomonosov Moscow State University Russia
93= Université Pierre-et-Marie-Curie France
95 Utrecht University Netherlands
96 Catholic University of Leuven Belgium
97 Wageningen University Netherlands
98 Ludwig-Maximilians-Universität München Germany
99= Queen Mary, University of London United Kingdom
99= Pennsylvania State University United States
101 University of Southern California United States
102= Georgetown University United States
102= University of Sheffield United Kingdom
102= Rice University United States
105= Humboldt-Universität zu Berlin Germany
105= University of Adelaide Australia
105= University of Sussex United Kingdom
108 National Taiwan University Taiwan
109= University of St Andrews United Kingdom
109= University of Zurich Switzerland
111= Wake Forest University United States
111= University of Maryland United States
111= University of Western Australia Australia
111= Uppsala University Sweden
115 University of Twente Netherlands
116= Fudan University China
116= University of Helsinki Finland
118 Tokyo Institute of Technology Japan
119 Hebrew University of Jerusalem Israel
120 Keio University Japan
121 University of Leeds United Kingdom
122 Lund University Sweden
123 University of North Carolina United States
124= University of Massachusetts, Amherst United States
124= University of York United Kingdom
126 University of Aarhus Denmark
127 Purdue University United States
128= Kyushu University Japan
128= Nagoya University Japan
130= University of Virginia United States
130= Tufts University United States
132 Durham University United Kingdom
133= University of Alberta Canada
133= Vrije University Brussels Belgium
133= University of Newcastle upon Tyne United Kingdom
133= Hokkaido University Japan
137 Radboud Universiteit Nijmegen Netherlands
138 Vienna University of Technology Austria
139 University of Liverpool United Kingdom
140 Cranfield University United Kingdom
141= University of California, Santa Barbara United States
141= University of Ghent Belgium
141= Cardiff University United Kingdom
141= University of Southampton United Kingdom
145 Georgia Institute of Technology United States
146 RMIT University Australia
147= Tel Aviv University Israel
147= Chalmers University of Technology Sweden
149 Freie Universität Berlin Germany
150= Texas A&M University United States
150= Korea University South Korea
152 University of Notre Dame United States
153 University of Bath United Kingdom
154 City University of Hong Kong Hong Kong
155 McMaster University Canada
156= Universität Göttingen Germany
156= Curtin University of Technology Australia
158= Waseda University Japan
158= Universität Ulm Germany
158= Technion - Israel Institute of Technolog... Israel
161= Chulalongkorn University Thailand
161= Université Louis Pasteur - Strasbourg I France
163 Michigan State University United States
164 Saint-Petersburg State University Russia
165= Université libre de Bruxelles Belgium
165= University of Science and Technology of ... China
165= State University of New York at Stony Br... United States
168= Tohoku University Japan
168= George Washington University United States
170= Universität Tübingen Germany
170= University of California, Davis United States
172= University of Maastricht Netherlands
172= Yeshiva University United States
172= Rheinisch-Westfälische Technische Hochsc... Germany
172= Royal Institute of Technology Sweden
176 Queen's University Canada
177 University of Oslo Norway
178 University of Bern Switzerland
179 Shanghai Jiao Tong University China
180 nanjing University China
181= Kobe University Japan
181= University of Montreal Canada
183= Vrije Universiteit Amsterdam Netherlands
183= Jawaharlal Nehru University India
185 Universiti Kebangsaan Malaysia Malaysia
186 University of Innsbruck Austria
187= University of Minnesota United States
187= Universität Frankfurt am Main Germany
187= Brandeis University United States
190= University of Barcelona Spain
190= University of Reading United Kingdom
192= University of Malaya Malaysia
192= Queensland University of Technology Australia
194 Technical University of Denmark Denmark
195 University of Aberdeen United Kingdom
196 University of Wollongong Australia
197 Università degli Studi di Roma - La Sapi... Italy
198= University of California, Irvine United States
198= Korea Advanced Institute of Science & Te... South Korea
200 Universite Paris-Sorbonne (Paris IV) France

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